Previsões para o total a ser investido por chineses no Brasil oscilam de US$ 700 milhões a mais de R$ 1 bilhão por ano
Para que esses valores sejam alcançados, país não pode ser radical na defesa do ambiente, diz presidente da Câmara Brasil-China
MARTA SALOMON
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Instalado recentemente em um prédio da avenida Paulista, o primeiro escritório do Bank of China na América Latina ajuda a explicar o salto nos investimentos chineses no Brasil neste ano. Apenas entre janeiro e abril, de acordo com os dados mais atualizados, o Banco Central registrou a entrada de US$ 66,1 milhões: 72% a mais de tudo o que a China investiu no Brasil em 2008.
No mês em que se tornou o maior parceiro comercial do Brasil, posto ocupado pelos Estados Unidos havia décadas, a China também ganhou a 17ª posição entre os maiores investidores, pulando 19 posições no ranking do BC.
Especialistas veem nos dados do BC sinais de um primeiro movimento, ainda tímido, da fatia brasileira na expansão chinesa no mundo, estimulada em tempos de crise econômica pela oferta de crédito e a urgência em ganhar mais competitividade em novos mercados, além da necessidade tradicional de parcerias em áreas consideradas estratégicas, como energia, biocombustíveis, minérios e alimentos.
A divisão responsável pela Ásia do Ministério das Relações Exteriores trabalha com estimativas não oficiais de que o investimento possa chegar a US$ 700 milhões nos próximos anos. É uma estimativa conservadora, afirma o chinês Charles Tang, presidente da Câmara Brasil-China.
Ele avalia que os investimentos estão aumentando e poderão superar a marca de US$ 1 bilhão por ano.
Mas haveria uma condição, segundo Tang: o Brasil não poderia ser tão radical na defesa do meio ambiente.
Obstáculos ambientais teriam impedido até aqui o empreendimento bilionário planejado pela Shanghai Baosteel, de um complexo siderúrgico no Maranhão, em associação com a Vale.
Muita gente prefere viver pobre e com a natureza intocável; a visão ambiental não enxerga o homem como bem da natureza, que também precisa ser preservado, disse.
Terras e pré-sal
Os números do Banco Central, que registram o fluxo de investimentos estrangeiros diretos, não traduzem completamente o movimento chinês.
Eles não captam, por exemplo, o financiamento de US$ 10 bilhões do Banco de Desenvolvimento da China à Petrobras anunciado em maio, já de olho na exploração de petróleo no pré-sal.
O financiamento está combinado à entrada no Brasil da Sinopec, empresa chinesa de petróleo.
No estudo intitulado Os futuros donos do poder: as 200 maiores companhias da China, o professor Carlos Arruda, da Fundação Dom Cabral, cita a Sinopec entre os dragões chineses já instalados no Brasil, ao lado do Bank of China, da Baosteel e da Huawei.
Estudioso da relação Brasil-China, Arruda reclama da falta de dados sobre a compra de terras por empresas chinesas.
A aquisição de áreas para a produção de soja, por exemplo, é um dos grandes interesses chineses no país, confirma Charles Tang, que tampouco dispõe de dados sobre negócios no campo.
A agropecuária é um dos setores de investimento destacados pelo Itamaraty.
Nessa lista o Ministério das Relações Exteriores também ressalta investimentos em infraestrutura (ferrovias e portos), siderurgia, eletroeletrônicos, petróleo e biodiesel.
O que aparece nos números do Banco Central ainda é muito pouco, quase nada, afirma Alessandro Teixeira, presidente da Apex (agência brasileira de promoção de exportações e investimentos) e da Waipa (World Association of Investment Promotion Agencies). Em setembro, ele viaja para a China. Vai participar de feira internacional de investimentos na cidade de Xiamen.
Teixeira avalia que a expansão chinesa no Brasil está apenas começando e deve apenas se tornar expressiva em meados da próxima década.
Arruda também vê os investimentos chineses no Brasil numa fase embrionária, ainda centrada na expansão do comércio. Na fase seguinte, haveria aquisições de empresas, prevê ele. (Folha de S. Paulo – B4)