Nos últimos dias de maio, o anúncio de que a companhia americana Bristow adquiriu parte da mineira Líder Aviação por até US$ 227 milhões chamou atenção para um segmento no Brasil que se prepara para dobrar de tamanho nos próximos dez anos: o transporte aéreo para plataformas marítimas (offshore) de petróleo e gás.
Feito exclusivamente com helicópteros, o serviço de táxi aéreo offshore vem crescendo de forma expressiva a reboque da expansão das operações da Petrobras, que responde por 90% da demanda. De 2000 até agora, a frota de aeronaves dedicadas a esse mercado subiu de cerca de 40 para 82, sendo que 74 atendem exclusivamente a estatal brasileira. Seis empresas aéreas estão em atividade no segmento: Líder, BHS, Omni, Senior, Aeróleo e Helivia.
Para o futuro, as grandes expectativas de quem opera o táxi aéreo offshore recaem sobre a exploração das gigantes reservas de óleo na camada pré-sal nas bacias de Santos, Campos e Espírito Santo. Ainda há muito por conhecer em relação ao real tamanho dos campos descobertos, mas a Petrobras sozinha estima que dobrará sua produção nacional de petróleo até 2020, dos atuais 2 milhões de barris por dia para 3,9 milhões. Dentro desse incremento, 1,2 milhão de barris virão do pré-sal.
O boom da extração e a consequente proliferação de plataformas ao longo do litoral brasileiro por si já justificariam uma ampliação considerável da frota de helicópteros que atendem as petroleiras – Shell, Chevron e OGX são algumas das outras clientes do táxi aéreo, além da Petrobras. Mas não é apenas o aumento do número de aeronaves que está em jogo. O perfil da frota também. Porque os reservatórios do pré-sal estão a mais de 300 quilômetros da costa brasileira, o transporte de pessoas e cargas precisará ser feito com helicópteros maiores e mais eficientes. Embora sejam mais caros, rendem proporcionalmente mais receita e lucro às empresas de táxi aéreo.
Agora, por exemplo, a Petrobras está promovendo duas licitações para contratar novos helicópteros médios e grandes, que devem começar a ser usados ainda neste ano, parte deles nos trabalhos do pré-sal. Os médios, geralmente, comportam entre dez e 12 pessoas e custam entre US$ 10 milhões e US$ 15 milhões. Os grandes podem levar 18 passageiros e custam cerca de US$ 25 milhões. As empresas de táxi aéreo dizem não saber qual o total de aeronaves contempladas nesses dois processos licitatórios, mas estimam um número entre 20 e 30 – sendo que algumas unidades vão substituir uma porção da frota atual. Contatada pelo Valor, a Petrobras não quis dar entrevista sobre sua demanda por esse tipo de serviço.
A Bristow, maior empresa de táxi aéreo offshore do mundo em número de helicópteros (480), projeta que o Brasil demandará de 30 a 40 novos helicópteros nos próximos cinco anos e mais 30 ou 40 nos cinco anos seguintes. A frota vai praticamente dobrar na próxima década, o que torna o Brasil um dos maiores mercados de táxi aéreo no mundo, diz Marc Duncan, vice-presidente da companhia para o Ocidente. O Golfo do México é a região de extração de petróleo offshore que mais concentra helicópteros atualmente. São cerca de 500, mas, observa Duncan, a maioria de porte muito pequeno. No mundo, há 1,8 mil aeronaves dedicadas ao segmento offshore.
O interesse no mercado brasileiro de táxi aéreo offshore justificou a compra de 42,5% da Líder, por US$ 227 milhões. Desse total, US$ 94 milhões foram direto para o bolso dos acionistas que venderam ações e US$ 80 milhões ficarão no caixa da Líder. Os US$ 53 milhões restantes estão atrelados ao cumprimento de metas financeiras. A Líder teve receita líquida de R$ 550,6 milhões em 2008, controla 40% do mercado de táxi aéreo offshore no Brasil (ver quadro) e atua também em outras áreas, como venda de aeronaves.
O valor da transação surpreendeu as concorrentes. A maioria delas, contudo, já conta com participação de grupos internacionais. É o caso da BHS, Omni e Aeróleo. Pela legislação brasileira, o limite de capital estrangeiro nas empresas aéreas é de 20% do capital votante.
A BHS tem como sócio o grupo canadense CHC, que tem a maior frota mundial em valor de helicópteros. Décio Galvão, diretor-executivo da empresa, afirma que os investimentos são feitos conforme os contratos são ganhos e, por isso, não há cifras definidas para o Brasil. Ter um sócio do tamanho da CHC, diz o executivo, permite negociar melhores preços com fabricantes de aeronaves, ter acesso a mais linhas de crédito e ter mais facilidade para conseguir as aeronaves exigidas nas licitações. Segundo a avaliação de alguns profissionais do setor, a BHS tem boas chances de ser a grande vencedora das atuais licitações promovidas pela Petrobras porque a CHC opera muitos equipamentos de médio e grande portes.
No caso da Omni, a empresa tem entre os sócios o grupo português de mesmo nome. Os acionistas estão totalmente comprometidos com o Brasil e prontos para investir, diz Rogério Izzo, gerente geral de projetos e novos negócios. O plano é investir US$ 24 milhões para ampliar a frota de 22 para 26 aeronaves nos próximos 12 meses.
A Aeróleo já teve a Bristow como sócia até 2005 e hoje tem capital da americana Era. Tanto ela quanto a Helivia não deram entrevista.
Já a Senior faz parte do grupo Sinergy, do empresário German Efromovich, e pretende manter-se independente o maior tempo possível, afirma José Eduardo Brandão, diretor de vendas da divisão de táxi aéreo do grupo. Existe hoje uma oportunidade de crescimento que não havíamos tido ainda, diz. Ele estima que a frota dedicada ao segmento offshore pode triplicar até 2020, chegando a 250 helicópteros. Há uma demanda reprimida e prova disso é que as aeronaves no Brasil chegam a voar mais de 120 horas por mês, contra 80 horas na média mundial, diz. A empresa pretende dobrar a frota para 20 helicópteros em 2010.
Entre os desafios das empresas estão formar pilotos para atender à demanda e às crescentes exigências de segurança feitas pelas empresas petroleiras, que seguem diretrizes da associação internacional de produtores de óleo e gás, a OGP. Segundo Carlos Eduardo Pellegrino, superintendente de segurança operacional da Agência Nacional de Aviação Civil (Anac), o índice de acidentes no segmento offshore em 2008 foi de dois, com cinco vítimas fatais, em cem mil horas de voo, o que é extremamente razoável. Neste ano não há registro de acidentes fatais.(Fonte: Valor Econômico/Roberta Campassi, de São Paulo)