Parceria, firmada após 25 anos de discussões, promete fortalecer a indústria, diversificar exportações e abrir novas possibilidades econômicas, enquanto levanta desafios para o setor de navegação
O Acordo de Associação Mercosul-União Europeia, concluído nesta sexta-feira (6), marca a formação de uma das maiores áreas de integração econômica do mundo, abrangendo um mercado de mais de 750 milhões de consumidores. Negociado desde 1999, o pacto enfrenta desafios, mas promete ampliar a competitividade global do Brasil, diversificar exportações e impulsionar a indústria nacional, incluindo uma abertura tarifária para 97% dos bens industriais. Especialistas do setor de navegação apontam, no entanto, que o impacto para o transporte marítimo será limitado, com poucas perspectivas de incentivos específicos.
Após duas décadas de negociações e um hiato marcado por preocupações ambientais, o acordo reaberto em 2023 e concluído agora traz a promessa de ampliar o acesso do Brasil ao mercado europeu. O presidente da Confederação Nacional da Indústria (CNI), Ricardo Alban, avalia que o pacto permitirá ao país superar a re-primarização das exportações, promovendo produtos de maior valor agregado para um mercado com elevado poder aquisitivo.
Segundo dados da CNI, o mercado europeu, que tem um PIB per capita de US$ 40,8 mil, poderá receber uma fatia significativa de produtos industriais brasileiros com tarifa zero, reforçando a posição do país em cadeias globais de valor e criando mais empregos. Para cada R$ 1 bilhão exportado ao bloco europeu, 21,7 mil empregos são gerados, destacando a relevância social e econômica da parceria.
No entanto, os reflexos do acordo no transporte marítimo entre os blocos ainda são incertos. De acordo com Luis Fernando Resano, diretor-executivo da Associação Brasileira de Armadores de Cabotagem (Abac), os termos do acordo preservam as regras de cabotagem nos países dos blocos, minimizando mudanças imediatas. Resano apontou que, embora existisse a intenção de abertura gradual para transporte marítimo entre os blocos, os altos custos operacionais das empresas brasileiras limitam o acesso ao mercado europeu.
“Com a denúncia dos acordos bilaterais com Argentina e Uruguai em 2021, o transporte de cargas entre os países passou a ser realizado por navios de longo curso, com fretes e tributos remetidos ao exterior, prejudicando as empresas brasileiras”, afirmou à Portos e Navios. Resano também acredita que o acordo dificultará a renegociação ou revitalização desses pactos bilaterais.
Para a Federação das Indústrias do Estado do Rio de Janeiro (Firjan), o acordo trará benefícios significativos para o estado e para o país como um todo. A harmonização de normas técnicas, sanitárias e fitossanitárias facilitará o comércio e alinhará o Brasil a padrões globais de sustentabilidade. A entidade também destaca a criação de mecanismos para que o setor privado monitore os impactos do acordo, garantindo maior transparência e participação empresarial.
A indústria fluminense, que já desempenha papel relevante nos setores de energia e metalmecânico, poderá se beneficiar diretamente da abertura comercial e da redução de barreiras tarifárias. Com acesso a um mercado de 750 milhões de consumidores, espera-se um fortalecimento das exportações e a inserção de produtos brasileiros em cadeias globais de valor.
Além das oportunidades de ampliação da pauta exportadora, o Brasil encara desafios para modernizar sua infraestrutura e alinhar as operações logísticas às exigências do mercado europeu, como padrões de sustentabilidade. Para o setor industrial, o acordo é uma chance histórica de reposicionar o país no comércio global, enquanto no transporte marítimo, os impactos dependerão de futuras negociações e adaptações que equilibrem custos e competitividade.
Fonte: Revista Portos e Navios