
Boletim da Infra S.A. destaca que expansão do modal é impulsionada por programas governamentais, transformação digital e investimentos das empresas em aumento da frota
A navegação de cabotagem no Brasil segue em crescimento e já representa 16,6% do total movimentado pelo setor aquaviário em 2024, com 213,1 milhões de toneladas transportadas. Os dados fazem parte do Boletim de Logística da Infra S.A., publicado pelo Observatório Nacional de Transporte e Logística (ONTL), e apontam que o modal se consolida como uma alternativa logística cada vez mais eficiente e sustentável para o escoamento de cargas no país.Entre os destaques do estudo, está o crescimento expressivo da movimentação de cargas conteinerizadas, que aumentou 27,2% em relação a 2023, chegando a 11,1% do total transportado. Esse avanço reflete a modernização das operações portuárias e a adoção de novas tecnologias para tornar o transporte mais eficiente. O granel líquido e gasoso continua sendo a principal carga transportada, correspondendo a 76,8% do total, seguido pelo granel sólido (10%) e pelas cargas gerais (2,2%), que incluem produtos como ferro, aço e celulose.
O crescimento da cabotagem tem sido impulsionado por iniciativas governamentais, como o Programa BR do Mar, que busca reduzir a dependência do modal rodoviário e ampliar a oferta do transporte aquaviário. Criado pela Lei 14.301/2022, o programa flexibiliza as regras de afretamento com o objetivo de ampliar a participação do setor privado.
O boletim aponta que, em 2024, foram emitidas 105 outorgas para navegação de cabotagem, distribuídas entre 97 empresas privadas, evidenciando o aumento do interesse no setor. No ano passado, o Brasil contava com 438 embarcações dedicadas ao modal, sendo 385 homologadas. Quando se considera apenas as embarcações brasileiras em operação e manutenção, houve um crescimento de 34,5% nos últimos 12 anos, passando de 195 embarcações em 2013 para 263 em 2024.
A modernização dos portos tem sido um dos principais pilares para a expansão da cabotagem. O boletim destaca que diversas iniciativas de transformação digital têm contribuído para tornar as operações mais ágeis e eficientes. Entre elas estão o Porto Sem Papel (PSP), que reduz a burocracia documental, e o Serviço de Tráfego de Embarcações (VTS – Vessel Traffic Service), que permite um monitoramento mais preciso do fluxo marítimo, melhorando a segurança da navegação.
Além disso, os portos brasileiros têm adotado novas tecnologias para otimizar o tempo de estadia das embarcações. Em 2024, o tempo médio de movimentação de cargas na cabotagem foi de 62,3 horas, inferior ao tempo registrado na navegação de longo curso, que chegou a 158,1 horas. Esse desempenho superior reforça a competitividade do modal em relação a outras alternativas logísticas.
Desafios
Apesar dos avanços, a cabotagem ainda enfrenta desafios estruturais que limitam seu crescimento. O boletim aponta que a falta de berços para atracação, a necessidade de manutenção dos canais de acesso e a utilização de equipamentos obsoletos são gargalos que impactam diretamente o desempenho do setor.
Outro entrave é a disputa por espaços nos portos. Muitas vezes, as embarcações de longo curso, que transportam cargas de maior valor agregado, têm prioridade nos berços mais modernos e eficientes. Isso gera custos adicionais para os operadores de cabotagem, incluindo despesas com combustível e tripulação, devido ao maior tempo de espera para atracação e descarga.
Para superar essas dificuldades, o governo tem apostado em iniciativas de digitalização e automação portuária, além de estimular a construção de novos terminais privados e melhorar a infraestrutura existente. A expectativa é que a integração entre os diferentes modais de transporte e o avanço das soluções tecnológicas tornem a cabotagem ainda mais competitiva nos próximos anos.
Fonte: Revista Portos e Navios