
Relatório da DNV identifica que, apesar dos avanços, adoção em larga escala de soluções enfrenta desafios como alto custo de implementação de algumas tecnologias, incerteza sobre retorno do investimento e falta de uma padronização global para facilitar transição
A indústria marítima enfrenta um dos maiores desafios de sua história: reduzir emissões de carbono e se adaptar às novas regulamentações ambientais globais. A Organização Marítima Internacional (IMO) estabeleceu metas ambiciosas de descarbonização, incluindo a redução de 20% das emissões até 2030 e a neutralidade de carbono até 2050. Ao mesmo tempo, medidas como o ‘EU ETS’ e o ‘FuelEU Maritime’ começam a pressionar economicamente armadores e operadores portuários para adotar práticas mais sustentáveis. Nesse cenário, a eficiência energética surge como peça-chave para viabilizar a transição, reduzindo custos e consumo de combustíveis fósseis enquanto o setor avança rumo a novas fontes energéticas.
Um relatório da DNV estima que a adoção de medidas de eficiência pode reduzir o consumo de combustível em até 16%, o que equivale a retirar de operação 55 mil navios pequenos ou 2.500 de grande porte movidos a combustíveis convencionais. Nos portos, a eletrificação das operações, especialmente com o fornecimento de energia em terra (shore power), pode diminuir significativamente as emissões de gases poluentes, melhorando a qualidade do ar e atendendo a exigências ambientais mais rígidas.
A busca por maior eficiência passa por diferentes frentes, desde inovações tecnológicas no design das embarcações até otimizações operacionais que permitem melhor aproveitamento da energia consumida. Entre as principais soluções, destaca-se a lubrificação a ar, que reduz o atrito do casco com a água, e o uso de revestimentos especiais que minimizam incrustações marinhas e melhoram a hidrodinâmica do navio. Além disso, sistemas de propulsão assistida pelo vento, como velas rotativas, já demonstram potencial para reduzir o consumo de combustível em viagens longas.
A gestão operacional também se tornou um fator crucial. O roteamento meteorológico permite que navios escolham rotas mais eficientes, economizando combustível ao evitar condições climáticas adversas. O ajuste dinâmico de velocidade e a otimização de trim e calado ajudam a reduzir o esforço da embarcação, impactando diretamente no consumo energético. Essas mudanças, muitas vezes implementadas sem a necessidade de grandes investimentos, já fazem parte das estratégias de diversas companhias que buscam reduzir custos com combustíveis e emissões de CO₂.
Nos portos, a transição para infraestruturas mais sustentáveis vem ganhando força. A instalação de sistemas de fornecimento de eletricidade para navios atracados permite que embarcações desliguem seus motores auxiliares e utilizem energia limpa da rede elétrica, diminuindo a poluição atmosférica local. Além disso, a digitalização das operações portuárias possibilita um controle mais preciso do tráfego de embarcações, reduzindo tempos de espera e otimizando o uso de energia em manobras e atracações.
Apesar dos avanços, a adoção em larga escala dessas soluções enfrenta desafios. O alto custo de implementação de algumas tecnologias, a incerteza sobre o retorno do investimento e a falta de uma padronização global dificultam a transição. Muitos armadores ainda hesitam em apostar em determinadas tecnologias por temerem que uma escolha errada leve a ativos obsoletos em poucos anos. A escassez e os altos custos de combustíveis neutros em carbono, como metanol verde e amônia, também representam obstáculos adicionais.
O relatório da DNV ressaltou ainda que a necessidade de acelerar a transição energética é evidente. Enquanto a indústria naval busca soluções definitivas para a substituição dos combustíveis fósseis, a eficiência energética se apresenta como um caminho viável e imediato para reduzir emissões e mitigar impactos ambientais. O documento aponta que, com regulamentações cada vez mais rigorosas e consumidores exigindo práticas mais sustentáveis, navios e portos que investirem nessas soluções desde já estarão melhor posicionados para enfrentar os desafios do futuro e garantir competitividade no setor.
Fonte: Revista Portos e Navios