Previsão faz parte da 4ª edição do Plano Indicativo de Gasodutos de Transporte (PIG) 2024. Projetos têm cerca de 2,3 mil km e abrangem alternativas para o gás argentino, gargalos na malha atual, interiorização do gás natural e biometano
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A Empresa de Pesquisa Energética (EPE) prevê oito projetos de gasodutos de transporte para os próximos anos, segundo dados da 4ª edição do Plano Indicativo de Gasodutos de Transporte (PIG) 2024. Os possíveis oito projetos têm cerca de 2,3 mil km e abrangem alternativas para o gás argentino, gargalos na malha atual, interiorização do gás natural e biometano.
Lançado na última segunda-feira (17), o PIG prevê investimentos de R$ 29,308 bilhões e potencial geração de mais de 80 mil empregos, com um provável impacto de mais de R$ 16 bilhões no PIB do Brasil (0,15%). A diretora de Estudos do Petróleo, Gás e Biocombustíveis da EPE, Heloisa Borges, afirmou que em abril está previsto a abertura de chamada pública para estimar a demanda efetiva por serviços nas infraestruturas dos elos da cadeia do gás e identificar o potencial de oferta e demanda de gás natural e biometano.
O plano aponta dois gasodutos que poderão ajudar na integração de gás entre o Brasil e a Argentina: Porto Murtinho/MS – Campo Grande/MS (alternativa via Paraguai) e Uruguaiana/RS – Triunfo/RS.
O primeiro é baseado em um projeto proposto pelo Paraguai, mas que ainda precisa de avaliação das outras partes. Este teria 392 km de extensão e 20 m de largura, e o traçado definido atravessaria 11 municípios do Mato Grosso do Sul.
A ideia é que este gasoduto conecte uma futura estação de medição, no município de Porto Murtinho, à Estação de Compressão (ECOMP) de Campo Grande já operacional do Gasbol, no município de Campo Grande. Parte da infraestrutura do Gasbol seria aproveitada para escoar o gás argentino através de uma rota que atravesse o Paraguai. O país quer viabilizar essa alternativa, pois vê uma chance de se integrar ao mercado sul-americano do combustível.
O segundo gasoduto teria 593 km de extensão e 20 m de largura, sendo construído inteiramente em faixa nova. O traçado definido atravessaria 12 municípios do Rio Grande do Sul.
O projeto deste segundo é uma alternativa que já foi estudada no PIG 2019 e foi reavaliado no PIG atual, com foco em um caminho menor para a conexão entre o ponto inicial e final. O Uruguaiana-Triunfo conectaria dois trechos do gasoduto Uruguaiana-Porto Alegre (GASUP) já construídos e com operação pela Transportadora Sulbrasileira de Gás (TSB).
O presidente da EPE, Thiago Prado, destacou que as reservas de shale gas de Vaca Muerta (Argentina) podem ser importantes para a indústria de gás natural brasileira, uma vez que a “conjuntura proporciona ao Brasil uma oportunidade de participar, com outros países da América do Sul, da construção de uma rede de gasodutos que permita aproveitar da melhor forma o potencial da região”, explicou ele durante a apresentação do PIG.
No entanto, a EPE destaca que existem outras três alternativas de gasodutos para transportar o gás entre Argentina e Brasil, as quais estão em estudo pelo grupo de trabalho criado pelo Memorando de Entendimento (MoU) entre os dois países para importar gás da Argentina.
Alternativas para gargalos existentes
O gasoduto Siderópolis/SC-Porto Alegre/RS estava presente no PIG 2019 e é uma duplicação do trecho extremo sul do Gasbol. O trecho teria a mesma extensão do Gasbol (249 km) e construído na mesma faixa de servidão, passando por quatro municípios de Santa Catarina e 14 do Rio Grande do Sul.
O objetivo é ampliar a capacidade de atendimento de demandas em Santa Catarina e no Rio Grande do Sul, bem como dar a possibilidade de escoar o gás argentino caso a importação alcance estados para além do Rio Grande do Sul. Mas isso se a construção do trecho 2 do gasoduto Uruguaiana/RS-Triunfo/RS seja construído.
A segunda alternativa para este caso é o gasoduto Duque de Caxias/RJ – Taubaté/SP, que já foi estudada no PIG 2022, mas avaliada no PIG atual devido à construção da ECOMP Japeri. O projeto, nomeado de GASDUT, é da Nova Transportadora do Sudeste (NTS) com expectativa de ter 294,5 km de extensão e 20 m de largura, além de atravessar 11 municípios no estado do Rio de Janeiro e 13 municípios de São Paulo.
Alternativas para interiorização do gás natural e biometano
O gasoduto Iacanga/SP – Uberaba/MG pretende interiorizar o gás em direção à Minas Gerais, com foco a atender os mercados de agroindustrial, fertilizantes, siderúrgico, além de demandas não industriais e de municípios próximos à diretriz do duto.
Com perspectivas de ter 260 km de extensão e 20 metros de largura, o gasoduto atravessaria 19 municípios de São Paulo e um em Minas Gerais. Após uma primeira fase, o projeto poderá ter a implantação de outros gasodutos, para integrar a malha à região Centro-Oeste, em projetos de termelétricas ou demandas para o Distrito Federal.
A outra alternativa é o gasoduto Santo Antônio dos Lopes/MA-Imperatriz/MA, sendo esta uma nova infraestrutura de transporte, com o gás tendo origem da produção da Bacia do Parnaíba e dois novos pontos de entrega – Açailândia (MA) e Imperatriz (MA). O traçado deste projeto teria 422 km de extensão em faixa de domínio nova com 20 m de largura, atravessando 12 municípios do Maranhão.
Os dois últimos gasodutos previstos são o Sertãozinho/SP – São Carlos/SP e o Seropédica/RJ – Japeri/RJ. O primeiro trecho teria 99,5 km de extensão, 20 m de largura e atravessaria 10 municípios no estado de São Paulo. Este seria uma alternativa para movimentar o biometano proveniente da produção do setor sucroenergético no interior de São Paulo.
O segundo gasoduto movimentaria o biometano produzido na planta de produção do aterro sanitário em Seropédica (já em operação) até a malha integrada de gasodutos de transporte, conectando-se à Estação de Transferência de Custódia (ETC) Japeri da NTS. O traçado teria 23 km de extensão e atravessaria os dois municípios citados.
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Tabela de projetos analisados no PIG 2024 (Fonte: EPE)
Fonte: Revista Portos e Navios