O grupo espanhol Naturgy, ex-Gas Natural Fenosa, tem uma visão otimista do Brasil, apesar das recentes dificuldades econômicas e políticas. Presente no país há 20 anos, o grupo vê o mercado brasileiro como prioritário. “Temos uma visão de longo prazo, de permanência, para o mercado brasileiro”, disse Francisco Reynés, presidente-executivo da Naturgy. Reynés, que assumiu o cargo em fevereiro, afirmou que o plano estratégico da companhia prevê investimentos de R$ 1,7 bilhão até 2022 para desenvolver nova rede de distribuição de gás via CEG e CEG Rio, que operam no Rio de Janeiro e no interior do Estado, e por meio da Gas Natural Fenosa em São Paulo.
“É uma demonstração da aposta [do grupo] no país”, disse Reynés, que esteve no Rio, na semana passada. No total, a Naturgy tem hoje 1,1 milhão de clientes no Brasil em distribuição de gás e a expectativa é captar 250 mil novos clientes até 2022 nas três distribuidoras (CEG, CEG Rio e Gas Natural Fenosa SPS). O grupo acredita que vai consolidar, assim, o crescimento registrado nos últimos anos e aumentar a quantidade de clientes em municípios do interior. Mas além da operação de distribuição de gás, a Naturgy entrou, via subsidiária Global Power Generation (GPG), no negócio de energia renovável. Desenvolveu seu primeiro projeto de energia solar em 2016, com duas operações no Piauí, e implanta outras duas unidades solares fotovoltaicas em Minas Gerais.
Reynés disse que o investimento de R$ 1,7 bilhão considera os negócios hoje existentes, e afirmou que o número poderá ser maior caso surjam oportunidades. Afirmou que o grupo tem a “obrigação” de analisar qualquer possível projeto que surja, como privatizações de empresas de distribuição de gás nos Estados. “Se surgirem projetos de privatização [de distribuidoras nos Estados], vamos estudá-los com vontade”, disse Reynés. Ele também indicou que o grupo tem interesse na renovação das concessões das distribuidoras CEG e CEG Rio, cuja privatização ocorreu em 1997 e têm prazo de 30 anos, até 2027. No momento, não há negociação avançada sobre a renovação com o poder concedente, que é o Estado do Rio,
mas o tema está em análise, segundo a Naturgy. Em 2018, serão investidos R$ 430 milhões nas atuais atividades de gás do grupo no país.
Na área de energia renovável, o grupo também olha para outras oportunidades, que podem ocorrer via novos leilões. A prioridade agora, porém, é construir as duas unidades solares fotovoltaicas em Minas Gerais, disse Reynés. Os projetos são Guimarania I e Guimarania II, que vão gerar a cada ano, segundo a empresa, 165 GWh a partir do último trimestre de 2018.
Em 2017, via GPG, o grupo já havia iniciado a operação das usinas Sobral I e Sertão I, no Piauí, capazes de gerar 154 GWh por ano.
Segundo Reynés, a aposta na área de energia renovável é uma tendência. “O plano estratégico do grupo multiplica por três a capacidade instalada em renováveis entre 2018 e 2022. Essa é a nossa aposta”, afirmou. No total, a GPG é dona de uma capacidade de geração de mais de 3,4 mil megwatts (MW) nos nove países 10/09/2018 Naturgy vai investir R$ 1,7 bilhão em gás no Brasil até 2022 onde opera: Porto Rico, Costa Rica, Panamá, República Dominicana, Uganda, Chile, México, Brasil e Austrália. O executivo disse que a vantagem, para o Naturgy, de ter entrado mais tarde neste segmento está no fato de que o grupo poderá utilizar a última tecnologia disponível, embora tenha que buscar aumentar sua participação de mercado.
Reynés disse que, independentemente de quem ganhe as eleições presidenciais deste ano no Brasil, o importante, do ponto de vista de um investidor estrangeiro como o Naturgy, é que haja estabilidade de regras e que se garantam marcos jurídicos e regulação o mais “estáveis” possíveis. Disse ainda que se o país quiser assegurar investimento tem que proporcionar “ferramentas atrativas” em um cenário em que os países concorrem por capitais. “Se financiar hoje em reais [no Brasil], em prazo de dez anos, é praticamente impossível”, afirmou. Ele disse que o financiamento no Brasil segue muito concentrado no curto prazo quando se olha a necessidade dos grandes projetos de infraesturutura, que requerem prazos mais longos. “É preciso buscar uma solução para que o financiamento [em reais] se adeque, em termos de prazos, ao [ciclo] dos investimentos.”
O executivo considera ainda que o Brasil precisa “cativar” o investidor estrangeiro uma vez que, na América Latina, vive-se um momento de incerteza e instabilidade. Nesse cenário, no seu entendimento, os prêmios de risco precisam ser compensados com taxas de rentabilidade adequadas. “Caso contrário, os investidores preferem ir para outros lugares”, afirmou. Em termos globais, o grupo, que opera nos setores de gás e eletricidade, tem 22 milhões de clientes e presença em mais de 30 países. Em 2017, o grupo obteve uma receita de negócios de € 23,3 bilhões e um lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização (Ebitda) de € 3,9 bilhões. A contribuição da operação brasileira para o Ebitda consolidado do grupo foi de 7% no ano passado.
A adoção da marca Naturgy, a partir de julho, explicou o presidente, tenta captar a sinergia existente entre ambiente e energia. O novo nome deve ser adotado somente em dezembro no Brasil.
Fonte: Valor Econômico