Com a inteligência artificial Wisdom, a petrolífera pretende entender variáveis que podem gerar falhas nas suas estruturas de segurança, principalmente as instaladas em águas profundas. O primeiro teste deve ser feito no campo de Búzios, no pré-sal da Bacia de Santos.

A Petrobras vai concluir em abril o primeiro teste em uma inteligência artificial adquirida para aprimorar o trabalho de detecção de falhas em poços. A empresa ainda avalia em qual campo o software vai ser instalado, mas o mais forte candidato é o de Búzios. Localizada no pré-sal da Bacia de Santos, a área é uma das estrelas do portfólio da estatal e tem a vantagem de já contar com um extenso banco de dados sobre o tema. O sistema Wisdom (Well Integrity System for Design, Operation and Maintenance) foi contratado por R$ 11,5 milhões da startup Wikki Data, nascida na Coppe-UFRJ.
Com o software, a Petrobras pretende escapar de uma preocupante estatística sobre a integridade dos poços na indústria de óleo e gás. A cada três unidades instaladas no mundo todo, uma tem problema de segurança, em diferentes estágios de gravidade. Mas apenas a minoria está em situação realmente crítica, de iminente vazamento, segundo Danilo Colombo, consultor de Confiabilidade e Riscos da Petrobras.
“Se esse é um desafio para a Petrobras, imagina para as empresas que estão começando agora. Esse tipo de solução (Wisdom) inicia uma empreitada entre a Petrobras e a Wikki e, depois, ganha o mundo. A gente pretende que ela seja usada pelo máximo de operadoras possível”, destacou o especialista.
No Brasil, 42 poços do pré-sal estavam com o sistema de segurança degradado em 2024, quando a Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP) exigiu das petrolíferas um posicionamento sobre os seus conjuntos solidários de barreira (CSB), instalados nos poços para evitar o escape de fluido. Esse número tende a estar subnotificado porque, do total de 60 operadoras, apenas 18 responderam à reguladora.
Nota técnica da agência revela a existência, em 2024, de 559 poços com CBS degradado, a maior parte deles localizada na Bacia de Alagoas (167). Na Bacia de Campos, eram 125 e em Santos, 26. Para piorar o quadro, o número de sondas disponíveis para consertar os equipamentos é insuficiente. A ANP deu, então, um prazo de 30 a 120 dias para as empresas resolverem o problema.
A tendência é que as condições de integridade piorem se não houver intervenção, porque o cenário é de amadurecimento das estruturas. “A gente tem visto na indústria um envelhecimento dos poços, o que é natural. Muitas empresas que estão iniciando operação no Brasil estão adquirindo campos maduros. Como gerenciar os campos maduros? É um desafio que tende a crescer ao longo do tempo”, ressaltou Colombo.
Uma das soluções da Petrobras para vencer a estatística foi a contratação do Wisdom. O software é capaz de compreender os motivos das falhas em equipamentos e estruturas, correlacionando variáveis, como pressão, temperatura e vazão, e, a partir daí, montar um histórico de cada equipamento. O objetivo é gerar conhecimento para a empresa se antecipar à crise, no melhor tempo possível. A inteligência artificial surgiu do programa de Pesquisa e Desenvolvimento da indústria do petróleo, gerido pela ANP e custeado pelo recolhimento de 1% da receita das petrolíferas. A construção do sistema vai ser concluída em três anos, numa parceria da Wikki Data com o Centro de Pesquisa da Petrobras, o Cenpes.
“A partir de agora, a gente vai conseguir aprender com os próprios dados. É uma evolução. Talvez existam fenômenos que a gente nunca tenha entendido, nunca observou. E, agora, os próprios dados vão mostrá-los. Vamos avançar numa velocidade muito maior”, disse o consultor da Petrobras. “A ferramenta vai entender quase em tempo real (o cenário) e vai dar insights”, complementou Rodrigo Dias, CEO da Wikki Data.
Fonte: Revista Brasil Energia