Um consórcio de petroleiras fracassou em encontrar petróleo em um poço nas águas ultra-profundas da bacia de Santos
Um consórcio de petroleiras fracassou em encontrar petróleo em um poço nas águas ultra-profundas da bacia de Santos, disseram representantes das empresas nesta quarta-feira, um sinal de que a intenção do Brasil de se tornar um dos grandes exportadores na área de energia ainda enfrenta riscos.
A notícia chega pouco depois de a Petrobras anunciar a suspensão do teste de produção no mega-campo de Tupi, o que evidencia o desafio de produzir petróleo e gás atravessando uma espessa camada de sal quilômetros abaixo da superfície do mar.
Esses problemas podem comprometer a argumentação do governo de que não há risco exploratório no pré-sal brasileiro, máxima que tem sido citada repetidamente como justificativa para uma mudança na regulamentação do setor de petróleo para elevar o ganho do Estado.
Não é que isso (poço seco) vá matar a viabilidade do bloco, mas é um alerta de que há desafios tecnológicos suficientes -não é mamão com açúcar, afirmou François Moreau, um ex-executivo da indústria do petróleo e atualmente analista independente baseado no Rio de Janeiro.
Um consórcio incluindo Exxon Mobil, Hess Corp e Petrobras completou os trabalhos no poço chamado Guarani, no bloco BM-S-22 da bacia de Santos, e não encontrou petróleo, de acordo com comunicados da Hess e da Exxon Mobil. As duas possuem 40 por cento cada de participação no bloco, com a Petrobras ficando com os 20 por cento restantes. A Exxon é a operadora.
Anteriormente, no entanto, a Exxon já havia encontrado petróleo no mesmo bloco, no poço chamado Azulão, considerado bastante promissor, à época, por analistas.
A legislação brasileira exige que companhias operando no país informem prontamente à ANP (Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis) a descoberta de hidrocarbonetos enquanto perfuram áreas de concessões.
Um relatório divulgado pelo Deutsche Bank estimou em 140 milhões de dólares o custo do poço seco Guarani.
A Exxon Mobil informou em um e-mail: Nós estamos avaliando os resultados do programa de perfuração no BM-S-22 para planejar a localização de um terceiro poço que nos ajudará a melhor avaliar o potencial do bloco.
Na segunda-feira, a Petrobras disse que suspendeu o TLD (Teste de Longa Duração) de Tupi, campo que pode conter até 8 bilhões de barris recuperáveis de petróleo, após problemas no equipamento chamado árvore de natal molhada, que será substituído.
A Petrobras não disse quanto tempo levará para reparar o sistema em Tupi.
Entre os desafios da produção na camada pré-sal estão a elevada pressão, a movimentação da camada de sal, que será atravessada pelos dutos, e o relativo desconhecimento do tipo de rocha que guarda o petróleo. Há também grande volume de gás natural e gás carbônico no local.
A descoberta de Tupi, em 2007, colocou o Brasil no mapa dos grandes players do setor, mas a Petrobras terá que demonstrar que pode vencer os desafios tecnológicos e econômicos de produzir nesse tipo de local, relativamente novo na indústria.
A estatal é a principal operadora no pré-sal, com parceiros.
O governo Lula quer mudar o regime na área dos grandes blocos para partilha, em vez do atual, de concessão, mas o projeto ainda precisa ser definido e deve tramitar pelo Congresso. (Fonte: O Globo)